quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Apatia

Há momentos em que o corpo permanece ativo, mas a mente para. Não se sente coisa alguma, não se pensa, não se vê. Simplesmente se segue uma rotina sem entender o porque de estar fazendo aquilo. Tudo perde o sentido e dentro só há um enorme vazio. É uma espécie de morte, uma morte interior.
E a pior morte é essa que se experimenta ainda em vida.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quem realmente é o humano e quem pode ser chamado de animal?

A palavra 'humano' pode ser utilizada em uma frase tanto como substantivo quanto como adjetivo, é apenas uma questão de transmitir uma ideia como deseja. Pois bem.
Em uma análise superficial, 'humano' substantivo designa todos os seres da raça humana. Sim, raça humana, já que todas as etnias pertencem à mesma raça. Usos do conceito raça para indicar a cor da pele e/ou etnia de uma pessoa são errôneos.
Mas voltando. Até aí nada de errado com a palavra em questão. O problema está em usá-lo como adjetivo. Desse modo, 'humano' caracteriza algo ou alguém como tendo características típicas de seres humanos.
Para começar, pessoas não mantêm um padrão comportamental. Logo, não há características constantes e comuns para serem consideradas 'humanas'.
Agora admitamos o atual significado que 'humano' adquire: algo bondoso, solidário, preocupado com o bem do próximo. Com esta caracterização, o humano se coloca acima dos animais não-humanos, deixando-os como os únicos a realizarem atos errados e bestiais.
'Desumano' seria o oposto de 'humano', certo? Então, em uma notícia do tipo "Senhor é assassinado de maneira desumana na noite passada.", está pressuposto que se a vítima foi assassinada de maneira desumana é porque existem maneiras humanas de se matar alguém, ou não? Acrescente-se também que assassinato é uma atitude bestial e vemos que os atos negativos não cabem só aos não-humanos.
Pensando na humanidade em geral, vemos inúmeras características que se destacam e algumas que chegam até mesmo a ser bem comuns. Hipocrisia, falta de constância, individualismo... Homens e mulheres usando máscaras e artifícios para serem o que a sociedade exige que eles sejam, o fim do caráter e da personalidade. Usando um vocábulo da química, muitos são anfóteros: agem de acordo com o meio em que se encontram.
Desse atual comportamento pessoal, infere-se que 'humano' deveria ser usado no sentido de 'sem caráter, egocêntrico, individualista'.
Agora olhe para os animais. Eles competem pela sobrevivência e mesmo assim encontram situações em que é preciso agir em conjunto e ajudar outros, nem sempre da mesma espécie.
Depois de todas essas idas e vindas que provavelmente não serão bem vistas pela maioria das pessoas, somente uma conclusão pode ser tirada: há humanos animais e animais humanos, ambas as palavras podem ter conotação negativa e positiva. Quem sabe um dia não será regra geral que a conotação positiva prevaleça em todos...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Fluxo de Consciência

Já é tarde, ao menos é o que parece. A claridade se esvai para que o escuro tome seu lugar.
Logo em frente há um estranho brilho colorido. Um prisma. É só receber um raio de luz para que surjam todas aquelas cores. Vários em um, um em vários.
Decido levá-lo comigo. Sigo em frente esperando chegar antes que a escuridão tome conta de tudo. Chegar onde? Não sei, na hora descobrirei. Esbarrando nas paredes e tropeçando em blocos pesados encontro outros pequenos focos de luz.
Está difícil de enxergar. Minha vista está cansada, meu corpo está cansado, eu estou cansada.
O mundo lá fora está uma zona, um absurdo. Que estou falando? Isso aqui também está uma anarquia! Será que não existe mais ordem?
Tento me focar em sair deste labirinto, porém minha retina caleidoscópica indica todos os caminhos como sendo certos. Direita ou esquerda? Ou seria melhor o centro? Não posso parar aqui, no meio do nada. Estou perdida. Perdida em meu nada que tudo tem, o tudo em que nada existe.
Em frente, um súbito declive atraente. Há um movimento diferente lá embaixo, algo me puxa para a beira do abismo. Ouço um belo acorde, nada vejo. Talvez pular seja o melhor, arriscar cair muito, mais fundo do que desejo apenas para buscar uma mudança. Tudo para sair desta monotonia, deste estado. Será?
Espere, que é isso? Não consigo seguir em frente. O que me impede?
Volto minha cabeça e subitamente enxergo tudo de novo. Não há mais labirinto, escuridão, abismo, isolamento, medo. Meu prisma espalha raios coloridos para todos os lados. Há um estranho movimento neste show de luzes, efeito um tanto quanto hipnótico que, no entanto, não consegue prender minha atenção por muito tempo. Desvio o olhar e descubro porque não consegui pular.
Dois braços me envolviam e só então senti as mãos que apertavam minha cintura. Percebo seu olhar, sinto seu cheiro, ouço sua respiração ofegante como se tivesse corrido milhas sem parar para chegar naquele lugar.
- Eu jamais deixaria que você pulasse.
Nesse instante percebi porque a luz voltou de repente.
Chegara enfim.