quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Rosa-dos-ventos

Que lugar é esse? Onde vim parar? Há dias que ando e não chego a lugar nenhum...
Por que essa bússola não para de rodar e indica uma direção? Quando acho que está parando lá vai ela rodar de novo!
Não acho leste ou oeste, aqui o sol não nasce nem se põe. Ele simplesmente surge e, se cansa de iluminar meu dia, puf! Onde foi?
A lua brilha, um belo brilho intenso. Ela parece estar muito próxima... Deve ser época de maré alta. Que saudades de nadar, ir até o segundo canal e lá parar , olhar para o céu e me esquecer de tudo... O mar deve estar agitado, bem provável estar um mar de ressaca... Loucura mergulhar em tais condições... Mas que seria uma aventura e tanto, seria...
As estrelas também são mais bem vistas por aqui. Estranho, lá está a Ursa Maior, do outro lado o Cinturão de Órion. Como é possível ver tantas constelações daqui? Lugar mais esquisito esse...
Não tenho ideia de onde está o sul, muito menos o norte. Sem direção, sem sentido, nada que me ajude, que me guie.
Melhor parar um pouco e ver se algo de diferente acontece. Uma sonolência mais forte, um cansaço, um abatimento. Não há nada lá fora, não me acho lá fora.
Pensamentos diversos passam pela minha cabeça, meus olhos passam a observar meu interior. Vasculham cada canto escondido de minh'alma.
E eis que os pensamentos cessam. Acordo repentinamente e olho em volta. Ainda estou no mesmo lugar. Sinto que há algo diferente. A bússola parou apontando em minha direção. Levanto-me e começo a mudar de direção, mas a seta me segue.
Subitamente percebo que eu era minha própria guia. O que há externamente não ajuda, não tem importância alguma. Todas as respostas que preciso estão dentro de mim, não fora.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Apatia

Há momentos em que o corpo permanece ativo, mas a mente para. Não se sente coisa alguma, não se pensa, não se vê. Simplesmente se segue uma rotina sem entender o porque de estar fazendo aquilo. Tudo perde o sentido e dentro só há um enorme vazio. É uma espécie de morte, uma morte interior.
E a pior morte é essa que se experimenta ainda em vida.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quem realmente é o humano e quem pode ser chamado de animal?

A palavra 'humano' pode ser utilizada em uma frase tanto como substantivo quanto como adjetivo, é apenas uma questão de transmitir uma ideia como deseja. Pois bem.
Em uma análise superficial, 'humano' substantivo designa todos os seres da raça humana. Sim, raça humana, já que todas as etnias pertencem à mesma raça. Usos do conceito raça para indicar a cor da pele e/ou etnia de uma pessoa são errôneos.
Mas voltando. Até aí nada de errado com a palavra em questão. O problema está em usá-lo como adjetivo. Desse modo, 'humano' caracteriza algo ou alguém como tendo características típicas de seres humanos.
Para começar, pessoas não mantêm um padrão comportamental. Logo, não há características constantes e comuns para serem consideradas 'humanas'.
Agora admitamos o atual significado que 'humano' adquire: algo bondoso, solidário, preocupado com o bem do próximo. Com esta caracterização, o humano se coloca acima dos animais não-humanos, deixando-os como os únicos a realizarem atos errados e bestiais.
'Desumano' seria o oposto de 'humano', certo? Então, em uma notícia do tipo "Senhor é assassinado de maneira desumana na noite passada.", está pressuposto que se a vítima foi assassinada de maneira desumana é porque existem maneiras humanas de se matar alguém, ou não? Acrescente-se também que assassinato é uma atitude bestial e vemos que os atos negativos não cabem só aos não-humanos.
Pensando na humanidade em geral, vemos inúmeras características que se destacam e algumas que chegam até mesmo a ser bem comuns. Hipocrisia, falta de constância, individualismo... Homens e mulheres usando máscaras e artifícios para serem o que a sociedade exige que eles sejam, o fim do caráter e da personalidade. Usando um vocábulo da química, muitos são anfóteros: agem de acordo com o meio em que se encontram.
Desse atual comportamento pessoal, infere-se que 'humano' deveria ser usado no sentido de 'sem caráter, egocêntrico, individualista'.
Agora olhe para os animais. Eles competem pela sobrevivência e mesmo assim encontram situações em que é preciso agir em conjunto e ajudar outros, nem sempre da mesma espécie.
Depois de todas essas idas e vindas que provavelmente não serão bem vistas pela maioria das pessoas, somente uma conclusão pode ser tirada: há humanos animais e animais humanos, ambas as palavras podem ter conotação negativa e positiva. Quem sabe um dia não será regra geral que a conotação positiva prevaleça em todos...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Fluxo de Consciência

Já é tarde, ao menos é o que parece. A claridade se esvai para que o escuro tome seu lugar.
Logo em frente há um estranho brilho colorido. Um prisma. É só receber um raio de luz para que surjam todas aquelas cores. Vários em um, um em vários.
Decido levá-lo comigo. Sigo em frente esperando chegar antes que a escuridão tome conta de tudo. Chegar onde? Não sei, na hora descobrirei. Esbarrando nas paredes e tropeçando em blocos pesados encontro outros pequenos focos de luz.
Está difícil de enxergar. Minha vista está cansada, meu corpo está cansado, eu estou cansada.
O mundo lá fora está uma zona, um absurdo. Que estou falando? Isso aqui também está uma anarquia! Será que não existe mais ordem?
Tento me focar em sair deste labirinto, porém minha retina caleidoscópica indica todos os caminhos como sendo certos. Direita ou esquerda? Ou seria melhor o centro? Não posso parar aqui, no meio do nada. Estou perdida. Perdida em meu nada que tudo tem, o tudo em que nada existe.
Em frente, um súbito declive atraente. Há um movimento diferente lá embaixo, algo me puxa para a beira do abismo. Ouço um belo acorde, nada vejo. Talvez pular seja o melhor, arriscar cair muito, mais fundo do que desejo apenas para buscar uma mudança. Tudo para sair desta monotonia, deste estado. Será?
Espere, que é isso? Não consigo seguir em frente. O que me impede?
Volto minha cabeça e subitamente enxergo tudo de novo. Não há mais labirinto, escuridão, abismo, isolamento, medo. Meu prisma espalha raios coloridos para todos os lados. Há um estranho movimento neste show de luzes, efeito um tanto quanto hipnótico que, no entanto, não consegue prender minha atenção por muito tempo. Desvio o olhar e descubro porque não consegui pular.
Dois braços me envolviam e só então senti as mãos que apertavam minha cintura. Percebo seu olhar, sinto seu cheiro, ouço sua respiração ofegante como se tivesse corrido milhas sem parar para chegar naquele lugar.
- Eu jamais deixaria que você pulasse.
Nesse instante percebi porque a luz voltou de repente.
Chegara enfim.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

"A dor é inevitável. O sofrimento é opcional." (Carlos Drummond de Andrade)

"Eu sou um romântico quase caricatural. Acho que todo amor é eterno e, se acaba, não era amor. Para mim, o amor continua além da vida e além da morte. Digo isso e sinto que se insinua nas minhas palavras um ridículo irresistível, mas vivo a confessar que o ridículo é uma das minhas dimensões mais válidas.". Esse trecho, escrito por Nelson Rodrigues, descreve o amor de uma maneira piegas que, no entanto, está próxima da realidade. Afinal, os seres humanos são incrivelmente semelhantes quando se trata de sentimentos.
Para alguns, amor é abnegação, compreensão. Para outros, é uma maneira de se sentir completo. Todos já se decepcionaram ou ainda se decepcionarão com quem amam. E é aí que está a perfeição da vida. Ninguém aprende a andar de bicicleta sem cair.
O cuidado deve estar em não confundir amor com paixão e, assim, sofrer sem necessidade. Para ser feliz, é preciso entender os próprios sentimentos e ter paciência. No fim, todos encontram a felicidade e o amor que mais lhes convém.

*22/02/2008*

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Talvez Amor

O mundo parou naquele instante. Um salto no coração, um frio na barriga, um medo súbito. Não soube o que fazer, refugiei-me longe daquelas sensações. Oras, o que estava acontecendo comigo? Pensava ter me isolado deste tipo de sentimentos. Bobagem, não havia de ser nada.
Acabou que era. Uma olhadinha de lado, disfarçada. Sutilmente observando e pensando não ser observada. Não daria em nada como sempre... Ou talvez desse.
Uma pequena conversa, troca de ‘dados’. Os dias se passaram e tudo se manteve na mesma. Até a próxima conversa. Eu falava coisas que não estava acostumada a dizer, normalmente manteria tudo aquilo para mim. Perdia minhas defesas enquanto minha mente ligava o sinal de alerta. No entanto, meu coração era mais forte e me incentivava a prosseguir com a história já iniciada. Quem mandara ter um coração tão persistente?
Uma manhã de sábado, encontramo-nos. Correria, não pude conversar com ele como queria. Chegando em casa, um texto escrito para distrair o pensamento que era só ele.
O convite. O show no dia seguinte. Mais uma vez nada aconteceria. Porém, na despedida dentro do carro, arriscamo-nos. Acabamos por ficar apenas naquela vontade de “quero mais”.
Segunda a tarde. Surpreendi-me ao ver aquele nome na tela do celular tocando. Não era possível; ele, ligando para mim? Conseguimos conversar dessa vez e acertamos que finalmente nos veríamos em uma oportunidade melhor.
Eis que o medo começou. Cheguei no local com receio, pensei em virar as costas e ir embora. O que dera em mim de me arriscar daquele modo? Uma vez não fora suficiente? Mas ele veio do lado oposto e nessa hora eu me acalmei.
Uma tarde de conversas foi suficiente para eu perceber que ele era diferente. Continuamos nos vendo, conversando, sentindo.
E a cada palavra mais eu ficava ligada a ele. Percebi que afinal não perdera meus sentimentos por mais que tivesse tentado.
Um porto seguro. O som da sua voz que faz meu coração parar por alguns instantes antes de acelerar enlouquecidamente; sua presença que me acalma; seus olhos olhando nos meus como se conseguissem ver o que escondo no íntimo por medo; seu sorriso que tem o dom de iluminar todo o meu dia por mais escuro que estivesse antes de sua chegada.
Com ele não preciso de muros, redomas, portas. Não preciso ficar trancada dentro de mim, negando-me. Ao seu lado recuperei minha essência há muito perdida e sobretudo encontrei minha felicidade. Não consigo mais frear as palavras, elas simplesmente saem de minha boca.
Nessas horas fico totalmente vulnerável e mesmo assim o medo tão presente em mim antes de conhecê-lo parece sumir. Ainda está lá, mas cada vez mais fraco. Um dia ele irá sumir por completo, eu acredito nisso.
Voltei a ter esperanças, a acreditar que as pessoas possam realmente ser boas.
Todo dia reaprendo um pouco mais a viver e lentamente percebo que as coisas não precisam ser como eram. Talvez eu realmente tenha algum valor, talvez alguém realmente possa se importar comigo e sentir algo mais por essa criança sentimental que há dentro de mim.
Mas a maior e melhor descoberta que fiz nesses dias graças a ele foi perceber que talvez eu realmente seja capaz de amar novamente.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O mundo de pontes e muros - 23.12.08

Então aquele era o oeste que ela tanto almejava... Mas ele parecia cada vez mais distante. Ela nunca pensou que o norte pudesse ser tão longe do oriente. Quando poderia ela finalmente ver o sol se pôr com calma?
Aquele era um mundo estranho, eram só muros e pontes. Até o momento os muros pareciam prevalecer. Alguns estavam sendo demolidos e o material reaproveitado para a construção de pontes novas que iam ficando cada vez mais belas.
Mas existia uma ponte que ela gostava mais. Que orgulho ela tinha daquela ponte! Levou anos para que criasse coragem para construir uma ponte daquelas, já que a última havia sido destruída em segundos e nunca mais reformada. Ela passara meses e meses olhando para aqueles destroços antes de criar coragem para voltar a derrubar muros, mas nunca para construir uma ponte semelhante. Talvez o medo de uma súbita tempestade, como a anterior, que lhe destruísse algo tão importante para ela. Porém ela tinha uma grande certeza de que não aconteceria dessa vez. Não, ela não sabe porque tinha tanta convicção e isso nem importa. O que importa é que ela começou a construir a ponte, que fica mais linda a cada dia!
Há outra ponte muito interessante nesse mundo. Não é uma ponte qualquer, é uma ponte móvel que existe por lá desde que as duas moradoras desse mundo descobriram que não estavam sozinhas nele. Atualmente ela está ligando norte e sul e, se tudo correr bem, em breve ligará oeste e sudeste. É uma ponte que está sempre desimpedida e em boas condições. Sempre que possível as habitantes desse planeta estranho e sem nome atravessam-na para se ajudarem.
Contudo, há algo que deixa a garota ainda triste. Ela não entende porque pontes antigas acabam despencando ou simplesmente surgem muros no meio delas. Talvez seja culpa da bruxa...
Sim, porque nesse mundo há uma bruxa. Sua tarefa é a de destruir as pontes das jovens e incentivá-las a construir muros. Sempre que elas tentam juntar material para novas pontes ela aparece com uma tempestade e as deixa ilhadas. Só que essas garotas se animam e começam a juntar novamente o material, na esperança de que da próxima vez a chuva não seja tão forte, mas suficiente para que as árvores cresçam e floresçam!
Se as garotas vão chegar onde querem e construir quantas pontes desejarem, sem muros a atrapalhar o movimento? Bem, isso é assunto para um próximo capítulo.
Afinal, o amanhã é imprevisível.

domingo, 23 de agosto de 2009

Tempo Adverso

Os ponteiros do relógio correm em ritmo constante. Não marcam nosso fluxo de consciência. Nossas impressões e sensações não obedecem à lei do tempo.
Não existe passado, presente ou futuro. O passado influencia o que fazemos no presente. Consequências do presente se apresentarão no futuro. Os três se unem e marcam apenas uma coisa: o conjunto que é a vida.
Tempo é relativo. Cada um tem o seu, cada um controla o seu. A única certeza é que ele nos conduz sempre. Estamos presos a esse conceito. Temos pressa para chegar ao trabalho mas não nos importamos em um pequeno atraso para a reunião de família, eles entenderão.
Meia hora em uma festa animada passa muito rápido; quando se vê, já é hora de ir embora. Porém, aquela meia hora esperando por um ônibus na chuva parece uma eternidade.
Perdemos muitos momentos por ficarmos presos ao relógio. Deixamos que ele decida o que devemos fazer, que comande nossas vidas. Para acontecimentos realmente importantes para nosso bem-estar estamos sempre “sem tempo”, deixamos “para uma próxima oportunidade”. E as obrigações tomam sempre o espaço do que nos faz bem. Não que ter obrigações não seja necessário, ao contrário. O problema é esse maldito ponteiro que nos persegue e nos prende, impulsionando-nos para as necessidades instantâneas e nos afastando das futuras.
Encontros desmarcados, risos perdidos. Tudo por uma ideia, um conceito. Deixamos que o tempo passasse a dirigir nossas vidas, viramos seres automatizados. É ele quem controla tudo e todos.
Perdemo-nos no meio dessa relatividade e nem ao menos tentamos fazer algo para mudar. Afinal, não temos tempo para isso agora.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

14 e 15.09.08


Estações do ano. Uma seqüência de mudanças, renovações, inícios e términos.
Primeiro, a bela primavera, perfumada e colorida. Que bom se todas as árvores permanecessem assim. Mas é inevitável a chegada do verão, que traz consigo lindos dias ensolarados e chuvas torrenciais. Logo em seguida vem o outono, e as árvores vão perdendo suas folhas, secando. Por fim, o frio inverno, solitário, nostálgico, época em que as árvores pouco se assemelham ao que foram durante a primavera.
Algumas árvores se fortalecem com as chuvas de verão e conseguem chegar ao inverno com ânimo e vontade, lembrando dos dias bons pelos quais passaram. Ao lembrar dos ruins, fazem-no de maneira a lembrar da força obtida com as intempéries.
Porém, existem as que preferem parar e esperar a chuva passar. Quando isto acontece, ela continua sua vida como antes, porém sem fortalecimento para as próximas e talvez piores chuvas.
Quem nunca viu uma forte árvore seca, ou uma frágil árvore florida?
Um cacto, com seus espinhos e seu grosso caule, áspero e seco, é pouco convidativo aos olhos, mas por dentro encontra-se uma grande reserva que o mantém vivo. Sua aparência rude não faz jus à sua complexidade interna; a cada seca essa planta fica mais forte e sabe o valor de uma garoa que seja graças às longas estiagens pelas quais passou.
Já a frágil orquídea, tão linda e rara, foge da chuva, esconde-se em meio aos galhos de outras árvores. Não sabe o verdadeiro sabor dos raios do sol nas folhas após uma tempestade, o prazer em manter-se viva com o próprio esforço e na companhia de outras plantas.
Há plantas que dependem parcialmente de outras, há as que o fazem totalmente, mas não há as que não dividem o espaço com outras, vivendo em mútua cooperação e harmonia.
Pessoas são árvores passando pelas diversas estações da vida, cada uma a sua maneira.
Espécimes semelhantes e ao mesmo tempo diferentes, os seres humanos têm o privilégio de escolher o que desejam ser. O verdadeiro eu é o que há dentro de cada um, assim como nas plantas. A essência do homem é como a seiva de uma árvore, seus mecanismos de defesa e sobrevivência. Cabe a cada um decidir como mostrar sua essência e aprender com as chuvas e secas, ser um cacto ou uma orquídea.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Coração Desvairado

É tarde, é muito tarde.
Há quanto tempo estou aqui?
Pensamentos vêm e vão. Um turbilhão de ideias, lembranças e ilusões me perturbam.
Foram tantos erros, deslizes, movimentos incertos. Palpites de todos os cantos, pessoas a dizer que atitude devo tomar. O que elas sabem de mim? De tudo que eu já passei? Dos meus sentimentos?
Não se coloquem mais em meu lugar! Eu não quero saber de “Se eu fosse você...”! Chega! Eu posso muito bem decidir que caminho tomar sozinha! Se eu escolher errado? Pra isso existem novos começos, por isso sou humana. Dou-me o direito de errar, direito que ninguém pode tirar de mim.
Sim, eu tenho medo. Vocês não? Um medo que me trava algumas vezes mas em seguida sempre me faz avançar. Eu não quero superar meus medos e desconfianças. Eu vou superá-los. Tenho força para isso.
Não há obstáculo intransponível, cada pessoa passa pelo que deve passar no momento certo. Eu hesito diante de todos, um instinto de sobrevivência me alerta do risco que vem pela frente. A razão manda mudar de rota, ir atrás de outras marés.
Porém meu coração é arisco. Não me atraem calmarias. Tempestades e ressacas me convidam a arriscar um pouco mais. Medroso e destemido, antagônico como eu. Ele é eu; eu sou ele. Esse insano me faz lutar contra meus maiores medos, leva-me a alcançar o descanso depois de nadar em maré alta.
Minha mente grita desesperada, pensa que tudo dará errado. Meu coração tenta acalmá-la. Faz-me companhia, incentiva-me.
Graças a ele encontro meu ancoradouro, meu porto seguro. Lá recupero minhas forças até que seja necessário um novo mergulho, mergulho no qual não vou sozinha.

domingo, 16 de agosto de 2009

O Quarto de Renata

E era sempre assim. Renata arrumava seu quarto de tempos em tempos. Mas a arrumação durava pouco tempo. Em determinadas épocas ficava tudo em seu lugar durante dias ou meses. Já em outras a organização sumia em questão de horas.
Ela decidira tirar uns dias de folga para colocá-lo em ordem. Recolheu os papéis avulsos que forravam o chão, palavras escritas que ela nem sequer se lembrava sobre o que diziam. Havia ainda fotos, lápis, canetas, e até mesmo anéis de latas de alumínio. Há quanto tempo não arrumava o recinto?
Ao recolher os objetos acabava por se lembrar do significado de cada um. Oras, anéis de latinhas não significariam nada para uma pessoa comum. Mas ela não era comum.
Sua memória relativamente fraca para algumas coisas se clareava ao ver algo ou sentir um cheiro familiar. Ela se acostumara a guardar o que pudesse ajudar a manter suas lembranças. Os anéis eram apenas uma das coisas que lembravam seu avô. Inicialmente uma coleção boba para que sua tia pudesse fazer uma bolsa com eles. Essa senhora falecera antes de fazer o presente para a sobrinha. Porém, o avô da garota continuava a guardar todos os anéis que conseguisse para ela. Ele se fora há mais de um ano e o costume permaneceu com ela e seus primos. Terminada a latinha de cerveja, retiravam o anel e entregavam a Renata. Era uma forma que encontraram para se lembrarem dele.
Guardou todos os anéis largados e partiu para as canetas e lápis. Pontas quebradas, tubos sem tinta ou quebrados. Quanta coisa inútil... Bom, lixo.
Ela hesitou ao pegar os papéis. Lá estavam todas as suas lembranças, boas e ruins, misturadas no turbilhão de emoções daquele quarto.
Quantos assuntos inacabados, cartas esperando uma resposta que ela nunca enviou. Recados escritos e não entregues. Tantas palavras que ela desejara ter dito e não o fez por falta de coragem, tantas tentativas de comunicação e auxílio que ela preferira ignorar por medo...
Como não percebera que estava se destruindo agindo daquele modo? Afastara a felicidade por viver presa a algo que não existia mais...E ainda por cima culpava os outros pelos problemas que ela mesma criava, que absurdo!
Não, ela não era mais desse jeito. Lutou muito contra si mesma e aprendeu a lição. Não iria se abater por algo tão fútil novamente.
Ajeitou os papéis como lhe conveio. Tudo arquivado da melhor maneira possível, quarto limpo.
Renata voltaria a viver. Nascera uma vez mais.


Obs.: Renata do latim, nascida novamente / renascida.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Antítese Mundana

Choro.
Uma mãe procura comida no lixo. Seus dois filhos choram. A fome é grande.
Ela encontra um pouco de alimento. Não é suficiente para todos. O filho mais novo está muito fraco. Ela e o filho mais velho comem o que foi encontrado. O pequeno olha para ambos e chora.
A fome mata.
É um fim de tarde no mundo.

Risos.
Crianças brincam em meio ao esgoto. Correm seminuas, divertindo-se com essa liberdade.
Elas voltam para casa, hora de almoçar. O cardápio é o mesmo de sempre: bolachas de argila, uma mistura de manteiga, água, barro e sal.
A fome mata.
É um dia ensolarado no Haiti.

Choro.
A garota acabara de almoçar. Uma prato completo e nutritivo. Arroz, feijão, bife, batata, saladas e para finalizar uma deliciosa torta de morango.
Ela não conseguia nem respirar de tanto que comera. Ao chegar no quarto, olhou-se no espelho. Como estava gorda...E ainda por cima comera tanto no almoço, que absurdo! Agora aquelas calorias iriam deixá-la mais gorda e feia! Não podia permitir isso.
Foi ao banheiro. Iria livrar-se de todo aquele veneno.
É um dia como outro qualquer no mundo.

sábado, 8 de agosto de 2009

A Visita

Passos no corredor assustaram-na. Acostumara-se a ouvir somente o som da própria respiração. Barulhos que não fossem provocados por ela mesma eram estranhos, soavam como fruto da própria imaginação ou uma vaga lembrança de um passado não tão antigo assim.
Pôs-se em guarda sem saber de onde vieram aqueles passos. Quem estaria andando por lá a essa altura? Quem descobrira aquele obscuro corredor? Tinha certeza de que apagara as luzes que conduziam qualquer um até lá meses antes. Prova disso era a falta de visitas. Mas isso não a incomodava. Tanto fazia alguém aparecer por ali ou não. Era até melhor.
Os passos pareceram ficar ainda mais próximos. Encolheu-se num canto bem a tempo de ouvir batidas na porta. Ora, fosse quem fosse logo veria a escuridão lá dentro e decidiria por ir embora.

Mais batidas. A curiosidade era grande e ela decidiu olhar pelo olho mágico e descobrir quem era o misterioso visitante. Um estranho provavelmente, nenhum conhecido se atrevia a enfrentar aquela escuridão para vê-la.
Soou a campainha. A insistência instigou-a. Talvez fosse bom abrir uma fresta pra ver o que a pessoa queria. Ao mesmo tempo saciaria sua imensa curiosidade e descobriria quem era.
Tentou falar para a pessoa esperar um momento, mas a falta de costume no uso da voz não permitiu um aviso. Ao invés disso apenas um sussurro tímido saiu de sua garganta, dito mais para si mesma do que para os outros. Idiota, ele não vai ouvi-la nesse tom.
Risos vieram de fora. Ele ouvira não só o sussuro, mas também o xingamento que ela imaginava ter apenas pensado. Boba. Qual o problema de ter alguém na porta? Simplesmente abra!
Mais risos, dessa vez mais audíveis. E algo foi dito lá fora. Já não está na hora de abrir essa porta e as janelas para o sol entrar?
Um pouco de medo tomou conta da moradora. Que aconteceria ao abrir a porta? Seria seguro? E as cortinas pareciam tão pesadas, conseguiria abri-las sozinha?
É por isso que estou aqui, pestinha. É mais fácil do que você pode imaginar, não precisa ter medo.

Pestinha. Ela tinha esquecido de como era ser chamada por um apelido carinhoso. O que era aquilo que ela estava sentindo dentro dela? Estaria passando mal? Seu coração estava acelerado, suas mãos tremiam e sentia uma leveza dentro de si, como se borboletas voassem em seu estômago. Como era mesmo o nome que davam a essas borboletas?
Frio na barriga. Risos, agora não só de fora.
Há quanto tempo não ria? É verdade, frio na barriga. Nome estranho pra se dar a essa sensação. Ela parecia lembrar aos poucos do que vivera. Parecia ter passado tanto tempo... O silêncio é realmente traiçoeiro, engana a todos. Segundos viram minutos e horas parecem segundos de acordo com o silêncio em que se vive.
Então?
Ele não era mais um estranho. Havia uma ligação mais forte e inexplicável entre visitante e moradora. Ela olhou para a porta em uma última reflexão. Realmente, já é mais do que tempo de abrir aquela porta e ver o pôr-do-sol novamente.
Onde deixara a chave?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Um velho perfil, porém atual

Segundo o maninho, eu sou o Leitão do Pooh, o Po do Teletubies e o Tatá da Cinderella.
Segundo a mamãe, eu sou a boloqueta.
Segundo o papai, eu sou linda.
Cada um com a sua opinião. Não sou o que dizem, nem o que acham. Sou apenas eu mesma.
Conheço meus defeitos e minhas virtudes. Sei do que gosto e do que não gosto. Sei que já fiz muitas coisas erradas, mas não me arrependo, pois foi graças a esses erros que aprendi coisas novas e ganhei experiência. Já fiz coisas boas e ajudei algumas pessoas, mas não fiz isso esperando algo em troca, pois encontro minha felicidade no sorriso alheio, na alegria de quem ajudei, não nos "obrigados" ou nos reconhecimentos. Já chorei por motivos bobos, já ri por motivos mais idiotas ainda. Já fiquei até de madrugada no msn conversando com amigos apenas por diversão ou para fazer companhia a alguém. Já quase morri de ansiedade esperando alguém ou algo chegar. Já fiquei tão feliz que nem conseguia dormir. Já fui chamada de louca e de sonhadora. Já acreditei tanto nas pessoas a ponto de ficar cega. Já duvidaram tanto de mim que até eu mesma passei a duvidar de que fosse capaz. Já passei por "maus-bocados", já tive momentos tão felizes que cheguei a voar com os pés no chão. Já viajei para lugares tão lindos que perdi o fôlego. Já me preocupei tanto com o futuro e com o passado que acabei esquecendo de que vivemos no presente. Já tentei mudar meu jeito de ser, mas descobri que minha essência é imutável, que sempre serei desse jeito e hoje sou feliz por não ter conseguido alterar a pessoa que há dentro de mim. Uma menina que às vezes quer agir como mulher, a mulher que às vezes quer agir como menina. Uma garota que chora com histórias românticas, que ri de piadas toscas, que tem um humor negro, mas ao mesmo tempo sabe ser delicada e carinhosa nas horas certas. Uma menina que se esconde por medo, mas que várias vezes obedece seu lado mulher e "sai da toca". Aquele lado adulto que enfrenta o mundo de cabeça erguida, mesmo sabendo que ainda vai tropeçar muito pelo caminho. A garota que segue seu instinto feminino, e por isso erra muito, mas não se deixa abalar. Aquela pessoa que tem sempre uma vozinha falando o que fazer ou então tentando alertá-la de que algo está errado. A criança que se perde em pensamentos olhando pro céu, que fica triste quando não consegue ver as estrelas e que fica radiante ao assistir desenhos ou ao ganhar um presente, por mais simples que este seja. A pequena que não liga para o valor material do que tem, pois gosta muito mais daquilo que tenha algum valor sentimental para ela. Um ser que não vê prazer maior do que ter um livro, um gibi, um mangá ou uma revista em quadrinhos para ler, ou então em poder assistir algum filme, mesmo que seja aquele que ela já viu inúmeras vezes. A adolescente que tem medo de fazer escolhas erradas e de não ser tão boa quanto esperam que ela seja, mas mesmo assim se arrisca. Uma menina que sonha de olhos abertos mesmo correndo o risco de cair, pois acredita que não há mundo melhor do que o da nossa imaginação, onde não temos limites; mas também é a adulta que sabe quando deve colocar os pés no chão para encarar a realidade. Aquela jovem que não gosta que lhe digam o que deve fazer, que preza sua liberdade, sua família e suas amizades mais do que tudo. Uma pessoa que gosta de andar por novos caminhos, que não gosta de ir pelo caminho traçado porque adora fazer novas descobertas. Aquele alguém que sabe que a vida não é fácil e aprendeu a continuar lutando, vivendo um dia de cada vez por saber que a vida melhora a cada passo que damos. A menina que não acredita que exista um fim, a adulta que acha que o que todos pensam ser o fim é apenas mais um recomeço.

domingo, 2 de agosto de 2009

Sem título.


Sabe aqueles dias que você abaixa a cabeça, desanimado, e acha que tudo está errado? E bate aquela saudade das pessoas que não passam mais todas as manhãs do seu lado?
Mas o problema não está nos outros, muito menos no mundo. O problema é você, que não vê toda a perfeição a sua volta e não nota que tudo está o mais correto possível. Afinal, só crescemos porque encontramos obstáculos cada vez maiores na vida. E qual seria a graça de viver sem dificuldades?
Por isso, é melhor aprendermos a parar de nos esconder e mostrarmos o sorriso lindo que todos têm, aquele que vem de dentro, personificando nossas mais belas emoções.
Devemos lembrar dos grandes amigos que fizemos durante nossa caminhada, mesmo que não estejam sempre ao nosso lado, pois sempre habitarão um espaço dentro de nós.
E por que não agradecermos os amigos que cresceram conosco e continuam ao nosso lado por forças do destino que ninguém compreende, mas deixa todos felizes por elas existirem e nos manterem unidos por tanto tempo?
Porém, não nos esqueçamos das "brigas" de todos os dias que só reforçam o sentimento que temos um pelo outro, mostrando-nos a importância que algumas pessoas têm para nós.
E pra finalizar: além de manter velhos amigos ao nosso lado ou dentro de nossos corações; admirar as belezas que existem nesse mundo a fora; sorrirmos para animar o dia do próximo, que muitas vezes têm problemas reais e não coisas fúteis como as que você chama de "seus problemas"...Fique sempre feliz por perceber que a cada passo que damos, encontramos mais e mais pessoas maravilhosas, que iluminam nossos dias só pelo fato de existirem.

sábado, 1 de agosto de 2009

Erros - 2006

Erros. Cometidos sempre pelos humanos. É típico de nós. Eles vêm para que aprendamos algo. Alguns erros irão se repetir para que vejamos o que realmente devíamos ter aprendido.
Mas os homens não admitem um erro. Por orgulho, desejo de superioridade. Sentimentos parentes da inveja que são a ruína humana. O desejo de ser superior, ter fama, faz com que ataquemos uns aos outros. Destruímo-nos para nos sentirmos realizados. Essa realização interior a nada nos leva.
Quando erramos, devemos admitir esse erro sem medo de repreensões. Se alguém errar, perdoe. Acabe com a indiferença existente entre todos. Evite que o poder dela sobre os homens aumente cada vez mais.
Faça o máximo que puder, mesmo que pouco. O seu pouco unido ao pouco de outros originará um muito que ficará maior com o tempo.
Cometa vários erros. Aprenda com eles.
Sonhe. Viva a realidade.
Seja você mesmo e não o que as outras pessoas desejam que você seja. Demonstre os sentimentos que estão gritando para sair. Simplesmente seja feliz.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pseudoenriquecimento Cultural

Século XXI. Terceira Revolução Industrial. Desde países emergentes até países desenvolvidos aderem à comunidade internacional, garantindo a sobrevivência na nova ordem internacional. A globalização aproxima os espaços com o apoio da mídia; mas as regras do mercado, ao serem ditadas pelas potências econômicas, afastam as pessoas e destroem culturas que se deixam influenciar por pensamentos hegemônicos transmitidos pelos mais diversos meios de comunicação.
Ocorreram inúmeras e rápidas transformações na esfera técnico-científica que levaram à modernização dos meios de comunicação. Nessa era da informação acessível, rápida e direta, é observado um grande volume de informações que dificulta o desenvolvimento de um maior senso crítico.
Com a difusão do sistema capitalista, a necessidade de consumo passou a fazer parte das prioridades da sociedade. Muito da responsabilidade por isso cabe a mídia, a qual tem grande influência sobre o desejo de consumo. Não há revistas, jornais, redes televisivas ou radiofônicas e “sites” que não possuam propagandas e promoções dos mais diversos produtos e serviços; e no Brasil, por exemplo, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, já em 1996 adquirir uma televisão ou um rádio era mais importante para a população do que uma geladeira, um bem de consumo necessário.
Em um mundo totalmente interligado, com as redes imateriais se expandindo mais a cada dia, culturas diferentes tendem a ter maior proximidade. O que a princípio pode parecer um enriquecimento do conhecimento de todos os povos apresenta-se, na realidade, como responsável por uma perda crescente de valores culturais.
A mídia, ao importar modelos globais e inseri-los em diversos locais, acaba por deteriorar os hábitos e valores de culturas menos influentes, inserindo-as em um padrão mundial que traz consigo a perda da liberdade e da identidade humana. Fazer um uso adequado da comunicação sem barreiras, promovendo o raciocínio e aproximando as relações humanas, é possível; porém, não convém a todos.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

02.03.2008

Tantas vezes tentei colocar minha vida, meus sentimentos e pensamentos em palavras. Inúmeras tentativas de me definir, e todas elas frustradas. Ah, e como fiquei feliz por isso..! Saber que não posso ser resumida em meia dúzia de palavras, limitada pela ponta da caneta em um simples papel...
Não há margens que limitem a minha complexidade sentimental. Não há ser humano algum que possa compreender-me por inteira. Nem eu mesma sei quem sou completamente. A cada tentativa, descobria algo novo dentro de mim, uma virtude ou até mesmo um defeito.
Como me alegrei ao perceber que sou muito mais do que eu mesma imaginava! Não acreditava que pudessem haver tantas características a sustentar o meu ser.
Mas agora sei que não tenho limites. A cada dia que passa sou uma nova pessoa e, inexplicavelmente, a mesma pessoa de todos os outros.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Epifania


Chovia.
Chovia torrencialmente. As águas estavam mais revoltas do que nunca. Era impossível sair naquela tempestade. Pontes e mais pontes haviam sido destruídas e, no entanto, grande parte dos muros permaneciam em pé, firmes. O isolamento ia se agravando e as correntes levavam a garota cada vez mais ao norte de seu mundo, distanciando-a sempre de seu tão almejado oeste.
Raios. Trovões. Relâmpagos. E lá estava ela, presa nesse mundo paralelo. O mundo de pontes e muros.
Ela já não sabia mais o que fazer. Cada ponte que ela decidia começar a construir era destruída por uma nova enchurrada. Uma nova tentativa, uma nova frustração.
Não havia condições para se iniciarem novas construções. O jeito foi tentar destruir os muros que ainda persistiam. Ela começou pelos mais antigos. Marretada atrás de marretada ela ia pondo-os abaixo. Alguns foram relativamente mais fáceis, outros nem tanto. Outro tanto não quis ceder de jeito nenhum. Paciência. Muros derrubados, só restava esperar uma trégua nas chuvas para que fossem substituídos por firmes pontes.
A ponte móvel seguia lá, inteira. A outra habitante deste mundo, sempre que podia, ia ajudar a jovem em seus projetos. Uma ajudava a outra a derrubar muros e trocavam entre si materiais para a construção de futuras pontes.
Mas meses e meses se passaram. As chuvas às vezes diminuiam, às vezes aumentavam bruscamente. Aquela inconstância amofinava a garota. Ela olhava para sua antiga redoma de vidro, pensando se deveria voltar para lá. Porém, ela lembrava de tudo que passou quando estava lá dentro. A solidão não lhe fora boa companhia, ela não desejava viver daquela maneira outra vez.
Cansada de ficar estagnada naquele lugar, ela decidiu se arriscar. Olhou para aquelas águas turbulentas. Um frio percorreu sua espinha. Uma sensação de medo enquanto a adrenalina corria em seu sangue. O resto daquele mundo gritava seu nome, atraindo-a para um mudança repentina, imprevisível. Ela se aproximou da beirada e se preparou. Aquele era o momento ideal.
Pulou.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Livro da Vida

Minha vida não se resume a uma simples existência. É muito mais que isso. Sou feita de sensações, lembranças, emoções.

Ao olhar as páginas passadas do livro que escrevi ao longo desses anos descobri erros esdrúxulos, exclamações e interrogações por todas as linhas. Há também espaços que infelizmente ficaram em branco. Em outros nem consigo ler o que está escrito. Mas não posso voltar com a caneta para corrigir tais falhas, fazer uma emenda aqui e outra acolá. Mesmo se pudesse, não as faria. Ao reler essas páginas descubro outras maneiras de escrever as atuas para que sejam mais completas, mais limpas.

Não, não ouso olhar para as folhas seguintes. Medo? Creio que não... Sempre fui dada a aventuras e sinto um grande prazer ao enfrentar o inesperado. Além disso, não quero que as páginas futuras destoem das antigas. Quero todas com rasuras, interrogações, exclamações e até mesmo alguns rabiscos nas margens, feitos às pressas para que, quando chegar no fim, eu possa ver que não passei pela vida em branco, que aproveitei cada momento. Quero ver citações a outros livros que ajudei a escrever. Desejo ler que, sempre que tropecei em alguma pedra no caminha, levantei de cabeça erguida, pronta para, na próxima queda, levantar ainda mais rápido e com mais força. Mais feliz ainda serei se ler que não caminhei sozinha, que sempre havia alguém ao meu lado, dando-me forças para continuar; e que parei para ajudar cada um que caía ao meu redor, vendo essas pessoas não com os olhos do rosto, que são cegos, mas com os olhos do coração.

Meu livro não possui ontem ou amanhã. Possui apenas o hoje, que é quando a vida acontece. Sou livre para escrever o que quiser nele. Com a caneta sempre em punho e uma página em branco, sigo sentindo, lembrando, caminhando... simplesmente vivendo!

domingo, 26 de julho de 2009

Sua mente, sua casa


O quarto estava uma zona. Papéis jogados por todos os cantos. Anotações, fichas, desenhos. Gavetas e armários escancarados, arquivos remexidos. Tudo na tentativa de se encontrar um objetivo perdido, um sonho esquecido que trouxesse consigo a esperança. A janela está aberta, mas só o vento entra, nada sai. A porta está trancada. E lá está ela, em sua busca incessante, presa no quarto de sua morada: o quarto das lembranças.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Déjà vu - 19.05.2009

Bate o sinal. Ela corre pegar sua mochila, muda de sala. Não sabe porque, mas aquela outra lhe sufoca. Hora de novos ares. Ela corre atrás de mudanças. Ela senta com sua amiga e olha para a porta. E eis que ele entra. Sim, ele. Seus traços marcantes, cabelos negros, rosto quadrado e um fio de barba por fazer. Alto, belo porte. Ela percebera sua presença há apenas algumas semanas. Desde então ela o tem observado. É como se ela o conhecesse, talvez seja mais um déjà vu pelo qual ela passa. Mas esse com certeza foi o mais bonito que já teve. Até mesmo as borboletas na barriga dela voltaram a voar. Aquele friozinho, uma mistura de alegria e receio.
Dessa forma os dias da garota passam, na incerteza do amanhã e a crença de que esse assunto ainda não acabou.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Beleza não tão bela

O individualismo não é algo incomum na sociedade atual. Valores pessoais foram depositados na aparência. Para se sentirem parte do mundo, pessoas modificam seus corpos, muitas vezes de maneira brutal.
Através da mídia, famosas passam uma idéia de supervalorização da aparência, seguindo determinadas características – o “mesmo” cabelo, lábios grossos, magreza... Os meios de comunicação usam temas relacionados à beleza em campanhas com imagens da mulher moderna realizada, com uma vida de sucesso e bem-estar pessoal. Essa massificação de modelos culturais acaba com a diversidade estética e leva culturas inteiras a mudarem seus padrões de beleza.
É claro que as mulheres não teriam como se adequarem a tais padrões se a tecnologia não houvesse se desenvolvido tanto. Com tecnologias cada vez mais avançadas, fazer cirurgias plásticas (entre outros processos) não tem tantos riscos como antes, o que leva até mesmo adolescentes a se submeterem a processos cirúrgicos em busca do corpo perfeito.
É nessa busca incessante que se sustentam algumas doenças que caracterizam uma epidemia silenciosa. O preconceito contra a obesidade e o culto à magreza criam um paradoxo: a beleza está em ser magra, mas a indústria alimentícia vende produtos calóricos e ricos em carboidratos. Para se livrarem dessa contradição, mulheres adotam dietas hipocalóricas e fazem exercícios físicos, muitas vezes exageradamente; outras ficam depressivas, quando não passam a sofrer de anorexia ou bulimia.
A globalização, apesar de intensificar as relações sociais em escala mundial de maneira que os países possam ajudar uns aos outros a crescer, mantém a antiga regra de que quem tem maior poder econômico controla todos os campos, do político ao ideológico. O Ocidente, até hoje mais influente, penetra na cultura oriental de tal forma que a absorve e substitui, destruindo não só identidades individuais, mas também a identidade de todo um povo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Flores de uma vida


E talvez aquele tenha sido mais do que um momento como outro qualquer. Quem sabe não foi o seu momento e você sequer se deu conta disso? Afinal, você estava muito mais preocupado com outros assuntos.
Fantasmas do passado não param de lhe atormentar. Melhor dizendo, você que não para de buscá-los, indo ao encontro do que já deveria ter sido esquecido. Você vive algo que já foi; está preso a um assunto que, ao seu ver, ficou pendente. Faz planos levando em conta a fantasia em que está mergulhado. Enquanto isso, a vida passa e você nem se dá conta das chances que tem perdido. Vivendo algo que não existe, passando em branco pelo presente e sonhando com um futuro que não tem a possibilidade de se tornar realidade.
Sonhos que sempre lhe foram tão importantes e hoje nada mais são do que tentativas frustradas ou situações passadas. É aí que você mantém a sua base, seu alicerce: em um solo arenoso. E aquele jardim de sonhos novos, bem do seu lado, esperando para ser cultivado? A relva verde da esperança sob um céu azul de equilíbrio, com os ventos da calmaria trazendo sua felicidade.
Os ventos estão cada vez mais fortes, mostrando que a hora de mudar já chegou. Uma nova fase deve começar, há novos jardins para serem cultivados. Mesmo assim você fica parado olhando para o jardim que floresceu lindamente um dia e agora não passa de uma área sem vida. Não há a beleza de outrora nessas folhagens, mas ela existe nos terrenos ao seu redor. Basta um olhar para perceber toda a vida à sua, à nossa volta.
Claro, sempre existirão os jardins antigos que não serão, nem devem ser, esquecidos. Novos jardineiros irão lutar pela vida naqueles locais, nada mais justo. A vida floresce em cada ser, desde que se dê uma chance.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Felicidade...

Hoje conversávamos sobre felicidade e a conclusão a que todos chegamos foi a seguinte: a felicidade simplesmente não existe.
Eis o grande impasse na ópera que é a vida: vivemos em busca de algo que não existe. Ninguém é feliz, apenas está feliz. O mesmo vale para a tristeza.
O ápice da ópera consiste no momento de felicidade, aquele momento em que perdemos a razão e nos deixamos levar pelas sensações. Não há certo; não há errado. Somente o aqui e o agora importam. E é nessa hora que vem aquela ideia de que "isso vai durar para sempre".
Então começa a luta. Tenor e soprano alternam suas vozes. O auge já foi alcançado, agora só se pode diminuir o tom. Primeiro uma oitava, depois outra e assim vai, até chegar ao seu ponto mais baixo.
Eis nossos momentos de infelicidade. É neste momento que somos mais racionais e calculistas, que analisamos o próximo movimento a realizar para não abaixar nem mais um tom. Parece que chegou o fim, sem mais lutas e decepções. Mas lá vamos nós aumentar o tom, criar uma nova esperança. Inicia-se novamente a busca pelo ideal de pseudofelicidade.
Não me venha falar que tudo o que aqui está escrito é mentira, isso seria mentir para os outros e para si mesmo. A vida é feita de altos e baixos, de mudanças contínuas. Não somos uma constante, mas sim uma variável. A pessoa que vemos no espelho hoje não é a mesma que vimos ontem, muito menos a que veremos amanhã.
Observemos as marcas em nossos rostos... São provas dos risos e dos choros que tivemos pelo caminho.
Felicidade, tristeza...Nada são além de nomes que demos a sentimentos que não entendemos e mesmo assim insistimos em buscar ou evitar. São ideias criadas pelos homens há muito tempo que ainda permanecem encrustadas em nossos seres. Não sabemos o que são ou porque devemos tentar atingí-las e mesmo assim insistimos nessa busca pelo nada.
A felicidade não existe.

domingo, 19 de julho de 2009

Intertextualidade


Quem sou? Bem, isso já é demais...
Eu não sou igual à garota que você vê na revista, aquela modelinho que você sempre sonhou. Não há ninguém igual a mim, assim como não há ninguém igual a você.
Eu desejo o impossível, desconfio do provável, dou risada do ridículo e choro quando tenho vontade, mas nem sempre sei o motivo. Tenho um sorriso confiante que às vezes esconde o que realmente há dentro de mim, camuflando toda a insegurança que carrego. Abomino a mesmice; a rotina é incompatível com a inconstância de alguém muitas vezes imprevisível.
Nem sempre faço o que tenho vontade; falta-me coragem ou, talvez, sobre sanidade. No entanto, já agi por impulso algumas vezes. Um grãozinho de sandice, longe de fazer mal, dava certo pico à vida. E quem nunca teve um momento de insanidade na vida, não é mesmo?
Por favor, não me analise. Não fique procurando cada ponto fraco meu. Se ninguém resiste a uma análise profunda, quanto mais eu ciumenta, exigente, insegura, carente, toda cheia de marcas que a vida deixou.
Aceite-me como eu sou, não tenho a pretensão de ser alguém perfeito. Eu sou como você, sou da raça humana, sou capaz de errar. O erro não é falta de caráter e faz parte da natureza de todos.
Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma.
Meu conhecimento é incompleto. Estou na busca do aprendizado e tenho um longo caminho a ser percorrido. Não me sinto superior ou inferior a outras pessoas. Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar. E nessa caminhada já aprendi que é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas; e que o ideal é não esperar pelo momento ideal.
Nesses anos, já fiz muitas coisas, e a verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.
Por isso, não espero ser aceita por todos. E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar.

sábado, 18 de julho de 2009

Um novo começo...




Sorria...

...você está sendo filmado.Sua vida está sendo vigiada. Todos dando opiniões sobre o que as pessoas devem fazer, sobre o que nós devemos fazer. E devemos deixar de fazer o que queremos só porque disseram pra fazermos isso ou aquilo? Esse tipo de atitude não me convém.
Não me interessa ser o que os outros querem ou pelo menos esperam que eu seja. Eu só sei ser desse jeito: meio imatura, meio adulta; meio explosiva, meio calculista; meio indecisa, meio direta; meio criança, meio séria.
Meus preconceitos e inseguranças? Vá lá que sei bem que os tenho. E daí? Quem não os tem?Se tiver a oportunidade e valer realmente a pena...Vou atrás do que desejo, por que não? Se outrem não concordarem com minha atitude não me interessa. Minha vida, minhas decisões, meus erros, minhas consequências. Já sou grandinha o suficiente para assumir a responsabilidade por meus atos, muito obrigada.
E se eu não fui atrás alguma vez, não lutei por algo...Foi somente porque achei que não valesse a pena ou porque minha maturidade, naquele momento, não me permitiu. Isso não quer dizer que não tenha sido importante, muito pelo contrário. Algumas coisas nessa vida creio que ficam melhor deixadas livres; certos assuntos não podem ser manipulados, controlados.
É assim, com minha família, meus amigos, meus amores...Enfim, com as pessoas que me rodeiam. Prefiro deixá-los livres para seguirem o caminho que desejarem e gostaria que fizessem o mesmo comigo.
Sem influências, sem me forçar a nada. Deixem-me ser eu mesma, com meus defeitos e medos. Preciso andar com minhas próprias pernas, assim poderei correr para onde desejar, sem limites. Só o horizonte para eu observar, só a natureza a me analisar. As câmeras dos olhos alheios que continuem a me julgar, não ligarei para elas. Isso é liberdade.