sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Beleza nas eleições - sofismo ou paralogismo?

A aparência deveria ter uma importância mínima quando comparada com a essência de uma pessoa. No entanto, o bilhete escrito pelo cartunista Ziraldo e recentemente postado em seu blog é uma triste prova de que vivemos em meio a valores invertidos.
As sobrancelhas de Dilma Roussef, às quais Ziraldo dedicou especial atenção, são irrelevantes. Não são elas que pretendem governar e sim o conjunto Dilma, com sua história e posição ideológica.

Em uma recente reportagem da revista Newsweek, foi dito que o Brasil é o melhor país para se fazer cirurgias plásticas. Isso apenas reflete quão rasa é nossa percepção de mundo e o descaso que temos com valores morais.
O eleitor precisa ter consciência do que realmente importa para não desperdiçar seu voto: sobrancelhas bem feitas e uma testa repleta de botox ou propostas e planos de governo bem embasados.
Carlos Lima, jornalista do Jornal da Manhã


*Artigo assinado escrito em 20/10/2010 com base em uma proposta de redação.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O particular global

Quando criança, Feliciano tivera de fazer um trabalho para a aula de artes com base no quadro Retirantes, de Cândido Portinari. O então garoto não via muito sentido em fazer a releitura, entretanto era obrigado a criar algo.
Retirou o fundo da imagem impressa e colocou a família de retirantes em isopor, prendendo-a dentro de uma caixa de sapatos pintada por dentro de cinza chumbo. Colocou palitos de churrasco pintados de preto por toda a abertura e recortou uma pequena janela gradeada, tão alta que nem mesmo seria vista dependendo do ângulo em que se olhava.
Na época, Feliciano se sentiu incomodado com a cena montada. Hoje entende o porquê de tal sensação - aquela montagem representava todo um povo. Na verdade, não se tratava apenas do retirante oprimido pela estrutura socioeconômica nordestina e pelo clima severo; era bem mais do que isso. Acima do retirante, aquilo era Feliciano, interiorano paulista sem vida folgada, porém razoavelmente sossegada; era todo e qualquer Homem, brasileiro ou estrangeiro.
Sem saber, o menino de 13 anos materializara a realidade escondida de qualquer ser humano. Em todo o mundo, pessoas se submetem a prisões psicológicas - de alguma forma, estão amarradas a algo ou alguém. Há opressões escancaradas enquanto se observam inúmeras ditaduras veladas.
Atrás de grades, materiais ou não, homens e mulheres lutam pela sobrevivência. Mesmo entre aqueles que moram em casas confortáveis e apresentam condições de vida relativamente boas, como Severino Feliciano, existe uma ou outra amarra, a submissão diante de certas situações.
Aos 73 anos, Severino percebe que todos possuem uma vida "gangorra": uns, apesar de mais embaixo, lutando e sofrendo, têm momentos de alegria; outros, em cima, vivem mais tranquilos mas nem por isso estão livres de certo sofrimento. São assim, meio Felicianos, meio Severinos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Falta de ética, perda de identidade nacional - 06.12.09

A troca de conceitos e pontos de vista diferentes é, graças à globalização, constante. Esse intercâmbio, que deveria ser benéfico, muitas vezes destrói culturas inteiras e leva à massificação do pensamento.
Principalmente a partir da 3ª Revolução Industrial, nas últimas décadas do século passado, a informação obteve meios mais rápidos e fáceis de se espalhar. Culturas e ideais dos mais diversos estendem seus tentáculos sobre as pessoas através dos meios de comunicação.
A alienação do indivíduo é um fato que tem preocupado a todos. O senso comum se fortalece a cada dia e acrescenta mais ideias pré-concebidas, muitas delas carregadas de preconceito.
Por meio da mídia, majoritariamente, potências impõem seus valores em detrimento dos demais. Quase que inconscientemente, inúmeras culturas se deixam ser dominadas por outras mais fortes e influentes.
Embora ocorra tal massificação, o individualismo vem se mostrando como um aspecto marcante na sociedade. A pessoa se sente desengajada do sistema e, ao ver alguns exemplos de falta de ética e moral em membros da sociedade com maior poder de decisão, acabam por começar a seguir os mesmos costumes.
No geral, o sistema capitalista julga mais um indivíduo pelos bens materiais que este possui do que pela moral e ética que demonstra ter.
Evitar que a população continue a se alienar não é tarefa fácil, mas pequenas atitudes muitas vezes levam a grandes consequências. O incentivo a palestras sobre aspectos sociais, movimentos que reúnam pessoas das mais variadas classes sociais em prol da valorização da cultura e a demonstração de valores morais podem ser atitudes realizadas tanto por entidades públicas como privadas e que têm grandes chances de apresentar um reflexo positivo futuramente.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sem, nem, nada.

Na ausência do eu, a falta, o nada.
Houve momentos em que me aventurei a viver fora de mim mesma. Afinal, o quintal do meu vizinho é sempre mais verde do que o meu. Busquei nova casa, nova rotina, novos gostos. Rearranjei minha vida e me acostumei com a mesma, acomodei-me. Uma construção feita às pressas, sem fundamento firme. Por fim, quando menos esperava, minha casa - tudo menos minha - desapareceu; fugiu não sei bem em que momento nem para onde, quando vi já não estava mais ali. Restou um eu sem-teto e sem ideia do que fazer. Quis me meter a bandeirante, desbravadora em busca de fortes emoções, mas não pensei nos problemas que arrumaria ao fazer isso. Tentei recorrer à minha antiga moradia; todavia, perdera-me de tal maneira que não sabia mais como voltar. Via mil e um caminhos, nenhum me apetecia. A mais pura verdade é: nada mais me despertava grandes interesses duradouros. Prosseguia com minhas obrigações sem saber bem o porquê de elas existirem em minha meia vida; meus nortes já não eram tão desejados e mesmo assim eu lutava todos os dias para alcançá-los. Nem amigos, nem amores; presença alguma além de minha outra parte poderia me libertar dessa prisão em liberdade. Perdi a noção do tempo e, ao levantar a cabeça por um momento, surpreendi-me ao ver que estava dentro de mim novamente. Acontecera a mesma coisa que das outras vezes em que me perdi de mim. relembrei de como era viver completa, comigo mesma. Em uma enésima tentativa, busquei viver apenas dentro de mim; contudo, sabia que uma parte minha permanecia selvagem e logo fugiria de mim. Esta parece ser a minha sina: ser metade e ser inteira.



*Texto de 04.10.10

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Debate Politilário

A política brasileira se destaca por apresentar constantes mudanças. No último domingo (26/09), notou-se a formação de um novo cenário na candidatura à presidência da República. Aparentemente, a disputa deixou de ser um conto para se caracterizar como novela.
Ao centro, o embate entre a versão feminina de Chuck, o boneco assassino, e o caríssimo picolé de chuchu (II). Tentando se tornar uma protagonista, a mistura de Poliana com Utopia. Por fim, o traidor da burguesia aparece como o perfeito Dom Quixote de La Mancha.
No início, o destaque foi Plínio de Arruda com ataques incisivos à candidata despreparada, ao péssimo professor e à ecocapitalista. O candidato já recebia aplausos com certa frequência quando se distraiu - foi como se tivesse tropeçado no tapete vermelho na hora de receber o grande prêmio. A partir daí, os argumentos não passaram de elongações em torno de uma mesma proposta. Nada mais se via além de um quadrúpede portando uma viseira muito fechada - estreitando a visão - e ferraduras demasiadamente gastas.
Marina Silva, por sua vez, partiu para o ataque em busca de um lugar na possível disputa em segundo turno. Apesar de demonstrar conhecimento amplo, com destaque para assuntos de âmbito econômico, melhor do que qualquer um dos demais candidatos, a ex-seringueira ainda não se mostrou capaz de responder a uma pergunta sem discorrer prioritariamente sobre o meio ambiente.
Enquanto isso, Dilma Roussef e José Serra aparentavam ter aprendido - na escola malufista - a melhor maneira de responder a perguntas sem realmente o fazer. Exaltações aos governos dos quais fizeram parte não faltaram, o contrário do que se observou em relação aos esclarecimentos solicitados.
A ex-ministra da Casa Civil representou uma das mudanças da noite: diferentemente dos outros debates, preferiu se dirigir à ex-ministra do Meio Ambiente, deixando o candidato tucano fora dos holofotes em inúmeros momentos - tampouco este conseguiu se destacar por si só.
Em poucas horas, passou-se da comédia ao drama, para daí então se chegar ao suspense. Encenou-se o começo de um novo ato, hilário em alguns momentos mas sem deixar de ser uma tragédia. O debate acabou sem vencedores; todavia, o perdedor está em destaque mais do que nunca: o povo brasileiro.


*Texto de 27.09