terça-feira, 13 de abril de 2010

Uma saudade.

Ela aparentemente era só mais uma garota como outra qualquer de sua idade. Nada a destacava, mas era esquecida por tudo. Você deve ter conhecido alguém que fosse assim, de certa forma insossa.

Uma garotinha loira, pequena por natureza. Todavia, andava meio curvada, contraída, como se tentasse se esconder do mundo. Apresentava escondido atrás da franja reta um olhar de medo e, estranhamente, de confiança ao mesmo tempo. De certa forma, perspicaz.

Porém, ninguém notava essa sutileza. Melhor dizendo, ninguém a notava. Era raro olharem para ela, a não ser com aquele conhecido olhar de reprovação e chacota.

Cabelo chanel, o corte mais simples possível. Mais uma personificação de sua timidez.

Talvez a falta de descontração fosse pelo fato de ser um tanto quanto gordinha. Com rosto redondo e bochechas sobressalentes, aparentava ser mais esférica do que realmente era.

Vendo fotos e filmagens em que ela está presente, tenho a impressão de que a menina considerada por tantos bobinha poderia mostrar, se quisesse, ser muito mais do que os outros imaginavam. No entanto, ela parecia não querer. Questão de personalidade, quem sabe.

Antitética, sorria e chorava com frequência. Vale ressaltar que fazia o possível para esconder seu choro; nunca gostou de deixar as fraquezas que possuía transparecerem. O riso, por sua vez, apesar de contido era transparente e sincero. O tipo de sorriso que se vê não só na boca, mas também e principalmente nos olhos. Pense um pouco e se lembrará de ter visto um sorriso desse tipo pelo menos uma vez no rosto de alguém, é inesquecível.

Porém, nada supera sua característica mais marcante. Quem a observasse melhor notaria sua enorme crença nas pessoas. Esperava sempre o melhor de todos e, caso isso não ocorresse, logo esquecia. Nela estava encerrado o dom de perdoar. Sim, é um dom, um magnífico dom. Qual fosse o erro, a garota tinha certeza de que não se repetiria, que a pessoa aprenderia e se tornaria um pouco melhor a cada vez.

Sei, é algo meio que inimaginável nos dias de hoje. Alguém que acredita no potencial muitas vezes escondido nos cantos mais obscuros e esquecidos de cada um.

Pessoa no mínimo rara, mesmo sendo uma criança. Contudo, sabemos muito bem que nem todas as crianças mantêm sua inocência por um longo período; além disso, elas agem por instintos com frequência.

Como disse, ela era diferente, um tanto quanto especial. E mesmo assim, invisível.

Não me pergunte onde ela está agora. Acredite, se eu soubesse já teria ido ao seu encontro há muito tempo.

Por mais que tente, não consigo me recordar do exato momento em que a perdi de vista. Diria que foi algo progressivo.

Sempre que penso nela, em seu sorriso e em seu olhar enigmático, sinto um enorme aperto no peito. É então que a falta que sua presença faz me sufoca mais do que tudo.

Claro, poucos entenderiam o porquê de sentir tanta saudade dessa loirinha. Tentei descrevê-la, mas sei que não é a mesma coisa. Basta saberem que um dia ela foi tudo que tive.

Ainda tenho esperanças de reencontrá-la escondida em algum canto dentro de mim, agachada e com medo. Nessa hora, ela mostrará mais uma vez toda a ironia de seu ser, olhando-me com olhos assustados enquanto exibe aquele lindo sorriso, feliz por ter sido encontrada.

Afinal, há alguns anos eu já fui ela. E ela sempre será eu.


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