domingo, 16 de agosto de 2009

O Quarto de Renata

E era sempre assim. Renata arrumava seu quarto de tempos em tempos. Mas a arrumação durava pouco tempo. Em determinadas épocas ficava tudo em seu lugar durante dias ou meses. Já em outras a organização sumia em questão de horas.
Ela decidira tirar uns dias de folga para colocá-lo em ordem. Recolheu os papéis avulsos que forravam o chão, palavras escritas que ela nem sequer se lembrava sobre o que diziam. Havia ainda fotos, lápis, canetas, e até mesmo anéis de latas de alumínio. Há quanto tempo não arrumava o recinto?
Ao recolher os objetos acabava por se lembrar do significado de cada um. Oras, anéis de latinhas não significariam nada para uma pessoa comum. Mas ela não era comum.
Sua memória relativamente fraca para algumas coisas se clareava ao ver algo ou sentir um cheiro familiar. Ela se acostumara a guardar o que pudesse ajudar a manter suas lembranças. Os anéis eram apenas uma das coisas que lembravam seu avô. Inicialmente uma coleção boba para que sua tia pudesse fazer uma bolsa com eles. Essa senhora falecera antes de fazer o presente para a sobrinha. Porém, o avô da garota continuava a guardar todos os anéis que conseguisse para ela. Ele se fora há mais de um ano e o costume permaneceu com ela e seus primos. Terminada a latinha de cerveja, retiravam o anel e entregavam a Renata. Era uma forma que encontraram para se lembrarem dele.
Guardou todos os anéis largados e partiu para as canetas e lápis. Pontas quebradas, tubos sem tinta ou quebrados. Quanta coisa inútil... Bom, lixo.
Ela hesitou ao pegar os papéis. Lá estavam todas as suas lembranças, boas e ruins, misturadas no turbilhão de emoções daquele quarto.
Quantos assuntos inacabados, cartas esperando uma resposta que ela nunca enviou. Recados escritos e não entregues. Tantas palavras que ela desejara ter dito e não o fez por falta de coragem, tantas tentativas de comunicação e auxílio que ela preferira ignorar por medo...
Como não percebera que estava se destruindo agindo daquele modo? Afastara a felicidade por viver presa a algo que não existia mais...E ainda por cima culpava os outros pelos problemas que ela mesma criava, que absurdo!
Não, ela não era mais desse jeito. Lutou muito contra si mesma e aprendeu a lição. Não iria se abater por algo tão fútil novamente.
Ajeitou os papéis como lhe conveio. Tudo arquivado da melhor maneira possível, quarto limpo.
Renata voltaria a viver. Nascera uma vez mais.


Obs.: Renata do latim, nascida novamente / renascida.

Um comentário:

mari disse...

aah q linda a homenagem amandinha.
emocionantee!!

parabéns pelo texto

e pelo novo nascimento.

é por isso q me orgulho de te conhecer s2

amo-te